domingo, 2 de maio de 2010

NA DEVIDA PROPORÇÃO

Já eram 16 horas quando meu filho pediu para jogar bola na praia. Com muita alegria colocamos a roupa de banho, botei o protetor solar e peguei a bola.

Chegando à praia, logo começamos a brincar, eu e meu filho Matheus de 4 anos, atuando na areia da praia com aquela desenvoltura atlética. Tirando o mico da barriga saliente, cansaço rápido e chutes desengonçados de minha parte, percebi que aquele final de tarde estava maravilhoso.

Quando de repente passa um carrinho de picolé balançando o sino. Instantaneamente meu filho grita: papai, papai, olha o picolé. Aí começa a história... Esqueci a carteira com o dinheiro...

Chamei meu filho e expliquei que esqueci a carteira. Ele ficou tão triste, tão triste, que o vendedor de picolé percebeu e disse: Menininho pode escolher e pegar quantos picolés desejar. Automaticamente o vendedor olhou para mim e continuou, quando o senhor me ver por aqui aí então o senhor me paga.

Meu filho sorrindo pegou duas garrafinhas de picolé, uma azul e outra verde-limão.

Olhei para o homem e passei a conversar. Ele falou que vendia no máximo 50 garrafinhas dia, que não tinha hora certa de passar naquele local, que não tinha praia certa para fazer a venda e que só não trabalhava quando adoecia. Cada garrafinha de picolé custava setenta centavos.

Já escurecendo e a noite acenando para o final de tarde resolvi voltar para casa, abraçado com meu filho, sempre pensando no ocorrido.

No outro dia no final de tarde, fui sozinho para a praia esperar o vendedor, ele não apareceu. No outro dia novamente, e novamente, e nada. Fiquei mais de uma semana. Finalmente ele apareceu, e resolvi pagar o equivalente a dez garrafinhas, ele sorriu e disse que não precisava tanto, mas insisti e ele aceitou. Conversei com ele e depois despediu seguindo com seu trabalho, sorrindo e acenando.

REFLETINDO...

Duas garrafinhas que ele entregou para meu filho equivalem a 4% do seu faturamente diário. Ele não pediu cheque, nota promissória, cartão de crédito, contrato ou qualquer outra coisa como garantia. A garantia dele foi o sorriso de um menino e de um pai que ele nunca tinha visto na vida.

Se algum leitor trabalha em empresa que fatura HUM MILHÃO por mês, os 4% seriam equivalentes a quarenta mil reais. Seria como se você entregasse este dinheiro para alguém que você nunca viu e não recebesse nenhum documento como garantia. VOCÊ FARIA?

Sei que alguns estão pensando, mas André... só são R$ 1,40 as duas garrafas, é muito pouco este valor, e por esta razão ele fez isto.

Meu amigo... imagine o que ele administra com este lucro. Pagamento de feira, transporte, remédio, energia, água. Plano de saúde, diversão, roupa, entre outros, fica difícil compreender como é administrado o dinheiro que ganha junto com a família dele. Tenho certeza que com muito pouco, também faz parte administrar os sonhos da casa dele.

Então estes quatro por cento da parte dele ou de quem ganha milhões não deixam de ser quatro por cento.

É verdade que seu gesto enquanto vendedor de picolé está quase que extinto. Não consigo imaginar quantas pessoas fariam isto. Quanto mais dia eu esperava este cidadão, mais cálculos eu fazia.

NO DIA QUE ENCONTREI O VENDEDOR DE PICOLÉ PERGUNTEI: Por que o senhor entregou as garrafinhas sem saber se iria receber o seu dinheiro? ELE RESPONDEU: Muito de longe já via o senhor brincar com seu filho e chegando mais perto escutava as risadas e gargalhadas dele. Senti que não deveria quebrar aquele encanto. Meu dia já tinha tido muitos aborrecimentos.

Ele recebeu o dinheiro, apertou minha mão, e acompanhei os seus passos ao longo.

FIQUEI PENSANDO:

TODO MUNDO PODE CONTRIBUIR.
TODO MUNDO PODE TRANSFORMAR.
TODO MUNDO PODE ENSINAR.
TODO MUNDO PODE DEIXAR SUA IMPORTANTE ASSINATURA NESTE NOSSO MUNDO.

NA DEVIDA PROPORÇÃO!


ANDRÉ LUIZ DE SOUSA FELISBERTO
consulteandre@ig.com.br

4 comentários:

  1. Prof... um texto muito humano!Parabéns... concordo muito com sua linha de pensamento. Esse ocorrido da história já aconteceu comigo também!!! A gente fica assim mesmo, pensando na vida...coisas simples nos ensina muito!!!! E pessoas humildes tem valores que livros e palestras não ensinam!!!!
    Abraços professor!!!
    Ass: Denise Vale - Administração manhã - Mauricio de Nassau.

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  2. ei tutude é lucas filho de sergio, q massa esse texto muito interessante, saudades de vcs, manda um xero pra tia jamile e um abraço pra mateus ...

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  3. Oláa Prof. André

    fiquei emocionada lendo seu texto, infelizmente é raro ver esse tipo de atitudes hoje em dia...

    Comigo foi diferente, num domigo final de tarde quando eu e o Wagner estavamos em casa resolvemos ir na praia tomar um banho, e aproveitar o final do dia, quando de longe vi o carrinho do picole e chamei ele para comprar um picole, era apenas um real eu não tinha troco entreguei dez reais a ele na confiança, ja estava anoitecendo mas ele disse que ia trocar o dinheiro para me trazer o troco, fiquei quase duas horas esperando pois não conseguia acreditar que ele não voltaria, o valor não era grande e ele disse que ia trazer mas infelizmente não cumpriu com sua palavra, fiquei decpcionada e sem acreditar.
    Todos os domingo final de tarde que vamos a praia lembramos daquela história, pois até hoje estou esperando o troco.

    Graças a Deus ainda tem pessoas boas como a do senhor que entregou os picoles para seu filho e vc que não se cansou de ir procura-lo na praia.
    Por essas pequenas atitudes de grandes importancia que acredito em um mundo melhor um dia.

    Grande Abraço
    sua ex. aluna. Roziléia Carara

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  4. André, depois de um tumultuado momento que vivi encontro este texto maravilhoso que me passou mais uma lição, sim mais uma lição porque já aprendera outras com você a de liderar, e você certa vez numa sala de aula disse-me ser um lider. E por ser lider saberia o momento de resolver algum caso, e agora dá este exemplo deste senhor do picolé. Ele ficou satisfeito em ver uma criança sorrindo, e por ter visto essa criança rir, ele certamente naquele momento se realizou, receber de você o dinheiro, fora apenas um detalhe.


    Alexandre Oliveira

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